06 agosto 2024

Cor, mais cor.

 Por que a cor desapareceu da nossa vida?




Lembra como antes a vida era mais colorida? Os jardins tinham flores, as fachadas tinham cores. As crianças brincando no pátio da escola representavam um universo multicolorido e alegre. Os carros nas ruas apresentavam um leque muito maior de cores. Hoje nosso pantone quotidiano ficou enfastiante, sem graça, quase monocromático, o máximo da ousadia é propor tons e sobre tons das mesmas cores anódinas e monótonas.

Por que a cor desapareceu do nosso dia a dia? É só olhar na nossa volta para perceber que a cor desapareceu. Olhe o corredor do escritório, as fachadas dos edifícios na nossa volta, os moveis, tapetes, os elementos que estão na nossa volta. Não é só ai, as ruas, a moda, a decoração, a arquitetura, os jardins, a cor desapareceu do nosso entorno.

Um estudo britânico há comparado a cor de sete mil objetos do nosso quotidiano o resultado não poderia ser outro o preto, o cinza e o branco que em 1.8oo representavam aproximadamente 15% das cores do quotidiano das pessoas. Hoje representam mais de 40%, as cores dominantes são o preto, o cinza e o branco.

De cada quatro carros, três são brancos, cinzas ou pretos o que representa 75% de todos os carros das nossas ruas. Em 1952 ¾ dos carros fabricados eram vermelhos, azuis ou verdes. A justificativa pode ser que um carro com uma cor mais neutra é mais fácil de revender. A indústria se adaptou a esta situação, em 2010 os carros brancos representavam 5% do mercado, hoje representam mais de 1/3 do total. Em outras palavras a produção em massa há estandardizado os produtos e poucas cores dominam o mercado.

O mesmo sucede com as cores usadas em decoração, as cores usadas em 1970, 80 e 90 foram substituídas pelas cores neutras. Cores neutras, mais puras quer dizer cores impessoais, anódinas. Também a moda segue a mesma tendencia, todos os grandes expoentes da moda passaram a usar a cor preta como uniforme, numa tendencia que nos leva de volta a monotonia maoista, da cor única e da ausência de criatividade. De Jean Paul Gaulthier que abandonou as cores e a temática náutica, para mergulhar no preto omnipresente. É verdade que a moda e as cores tem uma relação de permanente amor e ódio, passando de um extremo ao outro com velocidade e paixão surpreendentes. Foi em 1926 que Coco Chanel popularizou o “Pretinho básico”. Nos anos 60 o laranja tomou conta, nos anos da moda disco foi o vermelho que tomou conta. No final dos 80 e 90 foi a época das “Cores de Benetton” A vida era alegre e colorida. Em 2010 as cores sóbrias tomam conta das vitrines e dos armários.

Por que as cores desapareceram? Simplesmente porque esquecemos ou desaprendemos a usar cores. Quanto menos usamos as cores, mais temos medo de usa-las. Pela manhã ao escolher a roupa, sabemos que se nos vestimos numa cor crua, azul marinho, beige ou preto não estaremos cometendo erros. Quanto menos cor há no nosso entorno, menos temos vontade de usar cor.

A pergunta que devemos nos fazer é porque tudo ao nosso redor tem a cara e a cor de um domingo chuvoso de julho? Precisamos olhar além deste cenário monocromático e voltar nossos olhos para a arte e a teoria das cores. Em 18 de Julho de 1993, o escultor escocês David Batchelor, trabalhando num novo projeto de uma escultura toma a iniciativa de usar uma cor rosa intenso e o resultado o impacta fortemente, percebe neste momento como tudo na sua volta está dominado predominantemente pelas cores branco, cinza e principalmente pelo preto. A partir deste impacto passa a estudar e se aprofundar no estudo e na percepção da Cromofobia, o medo da cor. Neste ponto é importante destacar que este é um movimento predominantemente ocidental. Que identifica a cor como algo decadente, poco elegante, vulgar.  Já no século XIX entre os críticos prosperou a teoria que uma obra devia ser avaliada pela sua forma, pelo seu desenho, e desconsiderando a cor. As cores se associavam ao oriente e não ao ocidente, ao feminino e não ao masculino, ao infantil e não ao maduro. A Cromofobia não é por tanto um movimento novo.

Nos anos 20 do século passado, do pretinho básico de Chanel a arquitetura de Le Corbusier, de Theo Van Doesburg ou da escola Bauhaus a cor desaparece. O desejo de alguns arquitetos russos da época é construir um edifício sem nenhuma cor.  É verdade que nos anos 50 e 60 le Corbusier volta a cor. Por um lado destacando o concreto como material bruto, mas usando de forma atrevida a cor nos seus projetos. Um bom exemplo é la Cité Radieuse a Marselha onde cada porte tem uma cor.

É do filosofo Ludwig Wittgenstein a frase “Uma cor só se destaca num ambiente determinado, da mesma forma que os olhos só sorriem num rosto.”

O resultado é que a partir dos anos 80 o vidro, o concreto, o metal tomam conta do cenário urbano. Tanto o exterior como o interior são tomados por tons neutros, brancos, cinzas e preto dominam os espaços.

Sabemos da importância das cores para a formação e o desenvolvimento psicomotor das crianças. As cores tem significado. Vestir vermelho mostra liderança, azul confiança e lealdade. A teoria e o significado das cores precisa ser estudada e conhecida. Precisamos voltar a sala de aula e perder o medo de usar a cor.

Qual será o resultado de uma sociedade sem cor, especialmente depois de ter sofrido uma pandemia, de viver em ambientes anódinos, tristes e impessoais. Precisamos da cor. Ambientes criativos precisam de cores, de luz, de alegria. Silicon Valley é um bom exemplo disso. A maioria de espaços de coworking são alegres e usam cada vez mais cores. Está comprovado que produzimos menos em ambientes com cores frias e somos mais criativos e produtivos em ambientes com cores quentes.

O universo das flores e plantas é um universo colorido, alegre. Projetamos e construímos ambientes melhores para as pessoas, ambientes de trabalho mais produtivos, ambientes mais aconchegantes. Com identidade própria, vitais e coloridos

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