Por que a cor desapareceu da nossa vida?
Lembra como antes a vida era mais colorida? Os jardins
tinham flores, as fachadas tinham cores. As crianças brincando no pátio da
escola representavam um universo multicolorido e alegre. Os carros nas ruas
apresentavam um leque muito maior de cores. Hoje nosso pantone quotidiano ficou
enfastiante, sem graça, quase monocromático, o máximo da ousadia é propor tons
e sobre tons das mesmas cores anódinas e monótonas.
Por que a cor desapareceu do nosso dia a dia? É só olhar na
nossa volta para perceber que a cor desapareceu. Olhe o corredor do escritório,
as fachadas dos edifícios na nossa volta, os moveis, tapetes, os elementos que
estão na nossa volta. Não é só ai, as ruas, a moda, a decoração, a arquitetura,
os jardins, a cor desapareceu do nosso entorno.
Um estudo britânico há comparado a cor de sete mil objetos
do nosso quotidiano o resultado não poderia ser outro o preto, o cinza e o
branco que em 1.8oo representavam aproximadamente 15% das cores do quotidiano
das pessoas. Hoje representam mais de 40%, as cores dominantes são o preto, o
cinza e o branco.
De cada quatro carros, três são brancos, cinzas ou pretos o
que representa 75% de todos os carros das nossas ruas. Em 1952 ¾ dos carros
fabricados eram vermelhos, azuis ou verdes. A justificativa pode ser que um
carro com uma cor mais neutra é mais fácil de revender. A indústria se adaptou
a esta situação, em 2010 os carros brancos representavam 5% do mercado, hoje
representam mais de 1/3 do total. Em outras palavras a produção em massa há estandardizado
os produtos e poucas cores dominam o mercado.
O mesmo sucede com as cores usadas em decoração, as cores
usadas em 1970, 80 e 90 foram substituídas pelas cores neutras. Cores neutras, mais
puras quer dizer cores impessoais, anódinas. Também a moda segue a mesma
tendencia, todos os grandes expoentes da moda passaram a usar a cor preta como
uniforme, numa tendencia que nos leva de volta a monotonia maoista, da cor única
e da ausência de criatividade. De Jean Paul Gaulthier que abandonou as cores e
a temática náutica, para mergulhar no preto omnipresente. É verdade que a moda
e as cores tem uma relação de permanente amor e ódio, passando de um extremo ao
outro com velocidade e paixão surpreendentes. Foi em 1926 que Coco Chanel popularizou
o “Pretinho básico”. Nos anos 60 o laranja tomou conta, nos anos da moda disco
foi o vermelho que tomou conta. No final dos 80 e 90 foi a época das “Cores de
Benetton” A vida era alegre e colorida. Em 2010 as cores sóbrias tomam conta das
vitrines e dos armários.
Por que as cores desapareceram? Simplesmente porque
esquecemos ou desaprendemos a usar cores. Quanto menos usamos as cores, mais
temos medo de usa-las. Pela manhã ao escolher a roupa, sabemos que se nos
vestimos numa cor crua, azul marinho, beige ou preto não estaremos cometendo
erros. Quanto menos cor há no nosso entorno, menos temos vontade de usar cor.
A pergunta que devemos nos fazer é porque tudo ao nosso
redor tem a cara e a cor de um domingo chuvoso de julho? Precisamos olhar além
deste cenário monocromático e voltar nossos olhos para a arte e a teoria das
cores. Em 18 de Julho de 1993, o escultor escocês David Batchelor, trabalhando
num novo projeto de uma escultura toma a iniciativa de usar uma cor rosa
intenso e o resultado o impacta fortemente, percebe neste momento como tudo na
sua volta está dominado predominantemente pelas cores branco, cinza e
principalmente pelo preto. A partir deste impacto passa a estudar e se
aprofundar no estudo e na percepção da Cromofobia, o medo da cor. Neste ponto é
importante destacar que este é um movimento predominantemente ocidental. Que
identifica a cor como algo decadente, poco elegante, vulgar. Já no século XIX entre os críticos prosperou a
teoria que uma obra devia ser avaliada pela sua forma, pelo seu desenho, e desconsiderando
a cor. As cores se associavam ao oriente e não ao ocidente, ao feminino e não
ao masculino, ao infantil e não ao maduro. A Cromofobia não é por tanto um
movimento novo.
Nos anos 20 do século passado, do pretinho básico de Chanel
a arquitetura de Le Corbusier, de Theo Van Doesburg ou da escola Bauhaus a cor
desaparece. O desejo de alguns arquitetos russos da época é construir um edifício
sem nenhuma cor. É verdade que nos anos 50
e 60 le Corbusier volta a cor. Por um lado destacando o concreto como material
bruto, mas usando de forma atrevida a cor nos seus projetos. Um bom exemplo é
la Cité Radieuse a Marselha onde cada porte tem uma cor.
É do filosofo Ludwig Wittgenstein a frase “Uma cor só se
destaca num ambiente determinado, da mesma forma que os olhos só sorriem num
rosto.”
O resultado é que a partir dos anos 80 o vidro, o concreto,
o metal tomam conta do cenário urbano. Tanto o exterior como o interior são
tomados por tons neutros, brancos, cinzas e preto dominam os espaços.
Sabemos da importância das cores para a formação e o
desenvolvimento psicomotor das crianças. As cores tem significado. Vestir
vermelho mostra liderança, azul confiança e lealdade. A teoria e o significado
das cores precisa ser estudada e conhecida. Precisamos voltar a sala de aula e
perder o medo de usar a cor.
Qual será o resultado de uma sociedade sem cor,
especialmente depois de ter sofrido uma pandemia, de viver em ambientes anódinos,
tristes e impessoais. Precisamos da cor. Ambientes criativos precisam de cores,
de luz, de alegria. Silicon Valley é um bom exemplo disso. A maioria de espaços
de coworking são alegres e usam cada vez mais cores. Está comprovado que
produzimos menos em ambientes com cores frias e somos mais criativos e
produtivos em ambientes com cores quentes.
O universo das flores e plantas é um universo colorido,
alegre. Projetamos e construímos ambientes melhores para as pessoas, ambientes
de trabalho mais produtivos, ambientes mais aconchegantes. Com identidade própria,
vitais e coloridos
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