10 outubro 2024

Um bom profissional precisa seguir aprendendo sempre

 Tive o privilégio de trabalhar ao lado de Roberto Burle Marx, colaborando em projetos no exterior que enriqueceram minha trajetória profissional e me marcaram para sempre. Roberto era tremendamente curioso, tudo lhe interessava, era um eterno aprendiz, constantemente em busca de novos conhecimentos. Sua curiosidade inata e paixão por aprender contagiavam a todos a sua volta. Essa ânsia por aprender se refletia em cada um de seus projetos, obras de arte que impressionam pelo conhecimento que refletia em cada um de seus trabalhos.

Na época, um paisagista recém-formado, fiquei completamente contaminado pela a força avassaladora da sua capacidade de trabalho e sua intensa paixão. Fiquei especialmente impressionado com a variedade e a riqueza botânica que incluía em seus projetos, o que só era possível pelo profundo conhecimento botânico que detinha, resultado de anos de estudos, de dezenas de viagens de coleta e pesquisa e sua capacidade para gerenciar um acervo tão diversificado e complexo.

O princípio de “a planta certa para o lugar certo” ganhou um novo significado em sua abordagem. Um paisagista deve não apenas conhecer o vocabulário botânico, mas também dominá-lo com maestria, assim como um escritor precisa dominar a língua na qual se expressa. Reduzir o repertório a uma dúzia de plantas recorrentes é uma limitante a criatividade e arrastra para mesmice. 

A diversidade da nossa flora e a riqueza dos diversos biomas que nos cercam não pode ser reduzida a jardins monocromáticos, repetitivos, pobres em todos os sentidos. A exuberante beleza de nossas plantas nativas, somada à imensa gama de espécies introduzidas, nos proporciona a oportunidade de criar jardins que refletem nosso conhecimento e habilidade como profissionais, elevando o padrão do paisagismo brasileiro tanto nacional quanto internacionalmente.

Recordo-me com saudade das listas de plantas meticulosamente elaboradas nos projetos de Roberto Burle Marx e sua equipe. Eram combinações perfeitas, nas quais cada planta ocupava seu lugar adequado, desenhadas em escala correta e considerando os espaços e distâncias ideais para o desenvolvimento futuro. Para alguns, hoje, essas listas podem parecer um preciosismo, um exagero. Para que usar tantas espécies? Parece quase um jardim botânico.


Enquanto há paisagistas que mal conseguem se expressar profissionalmente, que apenas articulam frases que vão além de monossílabos e onomatopeias, utilizando um vocabulário restrito e superficial. Projetos repetitivos, pobres, medíocres.

Por sorte há profissionais que, em contrapartida, se esforçam para projetar jardins com a exuberância barroca de um manoelino tropical, utilizando em toda a sua plenitude a flora disponível, com conhecimento e sabedoria. Sem exageros, com equilíbrio e conhecimento é essencial que todos nós, como profissionais, busquemos a excelência e a diversidade em nossos projetos, enriquecendo o nosso conhecimento e, consequentemente, a paisagem que deixamos para as futuras gerações.

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