José Carlos Vieira - Eng. Agrônomo
Porque as árvores caem na cidade e no campo não?
O fenômeno acontece em todas as cidades. Bastou um vento um pouco mais forte e vemos árvores caindo sobre carros, fechando ruas, derrubando postes. O efeito nas pessoas destes acontecimentos, presenciados ou apenas na forma de notícia, é o surgimento de um temor cego às árvores, principalmente as grandes, que são vistas como ameaças iminentes de acidentes.
Isso nas cidades. Já no campo, ao contrário, as pessoas se valem das árvores para proteger seus lares contra o vento e o sol forte. Segundo Evandro Firmino, da Vigilância Sanitária de Apucarana-PR “nas fazendas sempre se plantaram grandes árvores ao lado das casas, são como guardiãs que amenizam o vento frio do inverno e o calor do verão. Árvore só cai no campo quando está velha e seca”.
Para descobrir o porquê dessa fragilidade da árvore urbana que o site entrevista o colaborador da ONG TudoVerde, José Carlos Vieira de Almeida.
O pesquisador aponta sem pestanejar a alta impermeabilização da cidade como causa principal da queda de árvores urbanas, e sugere a adoção imediata de calçadas ecológicas nas cidades.
"A alta impermeabilização da cidade é a principal causa da queda de árvores urbanas"
Site – Estamos com José Carlos Vieira para saber como a sua história começou.
Dr. Vieira – Sou engenheiro agrônomo formado pela UNESP de Jaboticabal, São Paulo, com doutorado em nutrição de plantas, e especialista em controle de plantas daninhas. Minha especialidade é matar plantas (risos).
S – O senhor pode nos explicar porque as árvores na cidade caem com tanta facilidade?
V - Primeiro tenho que contar como funciona a fisiologia dos vegetais. Qualquer planta é dividida em duas partes: a parte aérea e a radicular. No caso das árvores, a relação de peso entre estas partes é de um por um.
S – Quer dizer que existem duas árvores?
V – Sim! Pra baixo há outra árvore. E, às vezes, a árvore subterrânea é maior que a árvore aérea. Mas ninguém imagina isso porque não vê a parte de baixo. Todo mundo acha que a raiz é pequena porque quando se arranca vê-se apenas uns 10% dela. A raiz de uma árvore não está apenas sob o tronco, mas atinge uma grande área, muito além da copa.
S – Isso por acaso é para equilibrar a árvore, como os barcos que usam peso no fundo do casco para evitar que virem?
V – Exato. A natureza é muito sábia.
S – A primeira vista causa mesmo estranhamento uma estrutura tão grande apoiada apenas sobre um pilar!
V – Por isso fixar a planta é uma função da raiz. Mas a função vital é absorver água e nutrientes do solo. Essas substâncias são enviadas para as folhas, na parte aérea, onde se transformam no alimento da planta.
S – A famosa fotossíntese...
V – Isso acontece nas folhas, elas usam a luz solar e o gás carbônico (CO2) da atmosfera, somado aos nutrientes e principalmente a água que vêm das raízes para produzir glicose e oxigênio. Todo o oxigênio que existe no planeta apareceu livre por causa da fotossíntese das plantas.
S – O que permitiu surgirem os animais?
V – Os animais não têm capacidade de criar o próprio alimento, por isso são eternos dependentes das plantas. E, na verdade, elas estão preparadas e se aproveitam dessa dependência. Os frutos carnosos, com sementes dentro, são prova de como as plantas alimentam os animais em troca da dispersão de suas sementes, por exemplo.
Voltando ao ponto onde parei. A planta faz fotossíntese para gerar glicose, energia, e manter-se viva. A raiz, por estar no escuro, não faz fotossíntese, e, portanto, ela tem que se alimentar da parte aérea. A glicose das folhas é transformada em sacarose e enviada para as raízes se manterem e crescerem. As raízes usam o oxigênio do solo para queimar a sacarose através da respiração para manter seu sistema energético e liberando CO2 para o solo.
S – Mas então as raízes respiram?
Sim, essa é uma confusão comum. A planta faz a fotossíntese na sua parte aérea, que é a fixação de carbono e a liberação de oxigênio, ao mesmo tempo em que respira, liberando CO2 tanto pelas folhas como pelas raízes. Mas a taxa de fotossíntese é muito maior que a taxa de respiração, então se fixa mais carbono que se libera, e isso faz a planta crescer.
Com o aquecimento global fica evidente que temos que tirar CO2 da atmosfera. Essa é a razão das árvores serem importantes, principalmente nas cidades, onde geramos muito gás carbônico.
S – E como as raízes conseguem respirar debaixo da terra?
Quando as raízes respiram para queimar a sacarose e produzir energia, elas, idênticas a nós, retiram oxigênio e liberam CO2. Como o oxigênio chega à raiz? O solo ideal é poroso, comumente constituído de 50% de minerais e 50% de espaço poroso. Esse espaço é metade água e metade ar. E é esse ar que a planta usa para respirar e continuar viva debaixo da terra. Como o CO2 é pesado ele fica no solo. Para tirar esse CO2 é necessária a entrada de água, que expulsa o CO2, e, depois que a água infiltra, o solo se enche de novo de ar, com 21% de puro oxigênio novo.
S – E se não houver a renovação do ar no solo?
Simplesmente a raízes vão morrendo. Quando o oxigênio some a raiz pára de respirar, de funcionar, e ela morre. Primeiro as raízes mais finas, o que faz a árvore engrossas suas raízes superficiais. Depois ela engrossa a base do tronco, mas continua a perder massa radicular até todo sistema morrer. Enquanto houver um fiapo de raiz ela continua viva, mas o primeiro ventinho mais forte que der, ela cai.
Mas como haverá troca do ar do solo na cidade se está tudo impermeabilizado pelas calçadas, concreto, cimento e asfalto? Existe no máximo uma pequena passagem do tronco, e olha lá!
S – Qual a solução para as árvores não caírem mais?
V – A área permeável, canteiros, em torno das árvores é tão essencial para elas como é o ar para nós. A melhor solução para evitar a queda de árvore são canteiros extensos, as calçadas ecológicas, e de preferência com cobertura de gramados ou forrageiras, isto para evitar a compactação do solo.
S – Cada vez mais prefeituras têm dados descontos no IPTU para imóveis com árvores e calçadas ecológicas.
V – É uma forma inteligente de proteger a arborização e a cidade.
Dr. José Carlos Vieira de Almeida - Eng. Agrônomo
Universidade Estadual de Londrina
Mais informações em http://www.tudoverde.org.br/vernoticia.php?id=77
Nenhum comentário:
Postar um comentário