Vivemos cercados por uma enxurrada de informações sobre aquecimento global, mudanças climáticas e outros nomes que variam conforme quem traz o tema à tona. A urgência em torno desses tópicos faz com que sejamos convocados, como cidadãos e profissionais, a nos posicionar. Temos responsabilidade, e é sobre isso que gostaria de compartilhar algumas ideias neste espaço.
Não
pertenço ao grupo dos "ecochatos" de plantão nem sou um seguidor
fervoroso de figuras midiáticas como Greta Thunberg, Leonardo DiCaprio ou
outros tantos que, quando convém, levantam essa bandeira. No entanto, defendo e
milito por cidades mais verdes, permeáveis, arborizadas e, principalmente, mais
humanas. Se essa também é sua visão, siga a leitura, pois vamos falar sobre
como nossa atuação profissional pode e deve contribuir para construir cidades
mais verdes e sustentáveis.
Embora
estudos mostrem que as cidades estão mais quentes, não precisamos de ciência
para sentir na pele a diferença entre caminhar em uma rua arborizada e outra
sem árvores. As chamadas "ilhas de calor" são o reflexo de décadas de
escolhas que priorizam o asfalto e o concreto: especulação imobiliária,
priorização de carros, ocupação de áreas de várzea e margens de córregos,
impermeabilização do solo e destruição das áreas verdes remanescentes. Cidades
estão se tornando espaços hostis para as pessoas.
Ruas
arborizadas e sombreadas são mais frescas, com uma diferença de temperatura que
pode chegar de 7 a 10 graus em relação às áreas sem árvores. A presença de
áreas permeáveis em contraste com o concreto também faz uma diferença enorme.
Nós, enquanto profissionais, podemos e devemos fazer parte dessa mudança.
Precisamos projetar espaços com mais árvores, arbustos e áreas permeáveis,
escolhendo materiais que retenham menos calor, que reflitam mais luz e permitam
a melhor infiltração da água de chuva. Mas, a grande pergunta é: estamos
fazendo isso? Infelizmente, muitas vezes, não.
Em vez de
adicionar árvores à paisagem urbana, muitas vezes as suprimimos; quando
mantemos a vegetação, priorizamos plantas de ciclo curto e que mal sobrevivem
no ambiente urbano, removendo árvores “que sujam a calçada” ou para “não
esconder a fachada”. Precisamos perceber que essas escolhas contribuem
diretamente para as mudanças climáticas e aumentam o desconforto térmico nas
cidades. Ao tratarmos a vegetação apenas como um elemento decorativo, deixamos
de lado seu papel vital na sustentabilidade urbana.
É essencial
compreender que o ambiente urbano é artificial e construído. É importante
priorizar, sempre que possível, plantas nativas, mas não podemos simplesmente
reproduzir a Mata Atlântica ou outros biomas no ambiente urbano. Precisamos
escolher as espécies que mais se adaptam a esse contexto: aquelas que crescem
bem, com copa que oferece sombra consistente, que não produzam frutos que
possam ser perigosos para pedestres. Parece complicado? Ótimo. Isso demonstra
que é preciso investir em estudo, planejamento e especialização para que
possamos projetar cidades mais verdes, resilientes e saudáveis.
Os gráficos
incluídos ilustram o longo caminho que ainda temos pela frente, mas é
importante lembrar: cada árvore, cada metro quadrado de área permeável, é nosso
pequeno grão de areia na construção de cidades mais humanas e sustentáveis.
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