A onda verde chegou com força — e há espaço para todos que desejam surfar nela. Em meio a visões radicais e discursos apaixonados, há quem defenda o retorno às origens, quem pregue o cultivo apenas de espécies nativas e quem veja a sustentabilidade como um estilo de vida. Mas também há os que acreditam, como nós, na convivência harmônica entre diferentes formas de produção: os orgânicos, os bio, os alimentos cultivados com técnica e respeito à terra. O importante é entender que a fruta colhida no ponto certo de maturação, próxima de quem consome, tem uma qualidade é um sabor incomparável — algo que nenhuma logística de milhares de quilômetros pode reproduzir.
Esse novo olhar tem influenciado nossos jardins, hortas e pomares, impulsionando projetos paisagísticos mais conscientes. Cada vez mais pessoas desejam incluir frutíferas em seus quintais — seja pelo prazer de colher o que plantaram, seja pelo valor simbólico de cultivar vida. Em nossos projetos, priorizamos espécies nativas como pitangueiras, araçás, grumixamas, cambucas e juçaras, que encantam não apenas pelo sabor, mas também pela beleza das flores, folhas e frutos. Elas alimentam a fauna local, atraem aves e insetos e ajudam a compor espaços mais diversos e ecologicamente equilibrados.
Por outro lado, somos mais criteriosos quando o pedido é por espécies comuns em quitandas, como laranjeiras ou pessegueiros. Afinal, por que não aproveitar o espaço para cultivar frutas típicas da nossa biodiversidade, como pitangas, jabuticabas, araticuns, abius, pitombas ou frutas-do-conde? O prazer de colher diretamente do pé o que a natureza oferece de forma tão rica é insubstituível.
Outro movimento que ganha força é o das PANCs — Plantas Alimentícias Não Convencionais. Esse resgate de espécies esquecidas, muitas vezes deixadas de lado pelo mercado e pelo tempo, representa uma retomada de saberes e sabores tradicionais. Incorporar essas plantas nos jardins amplia não apenas o valor ornamental dos espaços, mas também o interesse cultural e gastronômico.
Reintroduzir PANCs é recuperar conhecimento, memória e identidade. Como nas histórias de famílias que perderam o hábito de colher cogumelos ou identificar espécies comestíveis, também deixamos de lado parte da nossa herança botânica. Graças ao trabalho de pesquisadores, chefs e botânicos, esse patrimônio está sendo redescoberto e valorizado.
Hoje, o consumo de PANCs — como taioba, ora-pro-nóbis, vinagreira e azedinha — desponta como símbolo de uma alimentação mais saudável, sustentável e conectada às origens. É um movimento que traduz o espírito do nosso tempo: a reaproximação com a natureza e a redescoberta dos valores simples e genuínos.
Promover pomares de frutas nativas e hortas com PANCs é mais do que uma tendência: é um convite a repensar nossa relação com o alimento, com a terra e com o próprio ato de cultivar.

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