08 julho 2025

Loucos por Likes: o impacto (positivo e negativo) das redes sociais na floricultura

As redes sociais se tornaram ferramentas indispensáveis no cotidiano pessoal e profissional. No setor da floricultura, elas oferecem uma vitrine poderosa para compartilhar projetos, divulgar tendências, promover negócios e disseminar conhecimento técnico. Nunca foi tão fácil acessar dicas sobre plantas, conhecer novos fornecedores ou se inspirar com belos jardins e arranjos. Nossos clientes estão cada vez mais informados — o que é excelente. Um consumidor bem informado valoriza a qualidade, exige mais profissionalismo e, com isso, impulsiona um mercado mais competitivo e maduro.


No entanto, o excesso de informação não significa, necessariamente, melhor informação. Uma simples busca por determinada planta pode gerar dezenas de imagens conflitantes — muitas vezes, com nomes errados ou informações imprecisas. Cabe aos profissionais capacitados o papel de filtrar, validar e esclarecer. E é aí que o conhecimento técnico se destaca como diferencial inquestionável.

Ao mesmo tempo em que ampliam o acesso à informação, as redes também abriram espaço para os chamados “loucos por likes” — personagens que, na ânsia por engajamento, se autoproclamam especialistas, formadores de opinião, professores ou consultores. Utilizam manchetes sensacionalistas e conteúdo exagerado para atrair cliques, mesmo que isso signifique espalhar fake news ou desinformação sobre o setor.

Alertas alarmistas sobre plantas “perigosas”, espécies “invasoras” ou “crimes ambientais” se proliferam a cada postagem, quase sempre sem respaldo técnico ou científico. Essa estratégia do medo, que explora o desconhecimento do público, pode desvalorizar o trabalho sério de quem atua com responsabilidade e amor pelas plantas.

É preciso separar os que realmente contribuem para o desenvolvimento da floricultura — com conteúdo qualificado, didático e honesto — daqueles que se aproveitam do caos para ganhar visibilidade. O espaço urbano, por exemplo, é um ambiente artificial, profundamente modificado pela ação humana. Pensar que ele deve reproduzir integralmente um ecossistema nativo é ignorar sua própria natureza.

A escolha de espécies para paisagismo deve considerar função, adaptabilidade, bioma, clima, manutenção e impacto ambiental, e não apenas a origem da planta. Aliás, vale lembrar: muitas das espécies que fazem parte da nossa rotina (como a laranja, o arroz e até o boi) não são nativas do Brasil. Nesse contexto, a pergunta inevitável é: quem, afinal, é exótico?

O que realmente fortalece a floricultura brasileira é a circulação de conhecimento sério, com equilíbrio, respeito à ciência e compromisso com o desenvolvimento sustentável. O mercado precisa de informação confiável, não criar o pânico disfarçado de conteúdo. Que sejamos multiplicadores de boas práticas, e não reféns da lógica do “quanto mais polêmica, melhor”.


Um bom exemplo de equilíbrio entre natureza e urbanização é o Parque Trianon, em plena Avenida Paulista, coração financeiro de São Paulo. Embora esteja inserido em um ambiente urbano extremamente hostil, o parque abriga uma rica composição vegetal — com espécies nativas e exóticas convivendo de forma harmoniosa. Ao contrário do discurso alarmista de que plantas não nativas representam uma ameaça automática ao ecossistema, o Trianon mostra que, com manejo adequado e planejamento paisagístico, é possível preservar biodiversidade, oferecer sombra, melhorar o microclima e proporcionar bem-estar à população. Não se trata de demonizar espécies, mas de entender sua função ecológica e seu papel na paisagem construída.

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